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quinta-feira, 25 de março de 2010

Educação inclusiva: Uma questão de conscientização e formação


Cleide Fraga - Atualmente é Coordenadora Pedagógica da Rede Adventista para o Estado o Mato Grosso

Do que se tem comentado sobre o tema Educação Inclusiva em palestras e encontros educacionais, grande parte é sobre a legislação, o espaço físico, a ética e até mesmo sobre a nova tecnologia assistiva, pouco porém, tem se discutido sobre a formação do professor na ótica da educação inclusiva.
Como Orientadora Educacional, tenho a cada ano letivo enfrentado desafios com a chegada de novos alunos com necessidades educativas especiais. Tais alunos chegam à sala de aula e pegam-nos desprevenidos, pois temos que saber o que, como e quando ensinar sobre os conteúdos curriculares a estes alunos. Outro dia, entrevistei uma família que ao preencher a ficha do SOE, enfatizou o motivo pelo qual escolheu a nossa educação: “É uma escola cristã que certamente estará comprometida com os valores e com a aprendizagem do meu filho, ele é autista, mas sei que vocês vão fazer o melhor por ele”. Educadora a mais de 25 anos, senti naquele momento dois sentimentos paradoxais: A satisfação em merecer o voto de confiança daquela família, mas a frustração em não saber sobre a metodologia a ser trabalhada com a complexa necessidade educativa de um autista. Pedi a Deus então, sabedoria e reunindo com a professora da turma e a equipe pedagógica, propusemo-nos a pesquisar toda e qualquer informação disponível em sites, livros e filmes, para na medida do possível, incluir este aluno que estaria conosco não só para ser um aluno a mais, mas para dentro de seus limites: aprender.
Temos, portanto muito a questionar, dialogar e pontuar sobre a educação inclusiva em nossa Instituição Educacional, já que se trata de uma abordagem abrangente, pois além das condições orgânicas, psicossociais, culturais, éticas ou econômicas, tem seus objetivos centrados na integração e interação do aluno neste micro sociedade que é a escola. Sabemos, no entanto que não podemos nos abster somente a parte social, temos que ir ao foco máximo da educação: A aprendizagem. Sendo assim, analisemos Hoffmann (2001, p.35) quando diz: “Sem dúvida, um sério compromisso irá mobilizar a escola brasileira deste século: formar e qualificar profissionais conscientes de sua responsabilidade ética frente à inclusão. Não é suficiente oferecer-se escola para todos, é essencial que o “todos” não perca a dimensão da individualidade, e que, uma vez na escola, esta ofereça a cada criança e jovem a oportunidade máxima possível de alcançar sua cidadania plena pelo respeito e pela aprendizagem”.
A escola de qualidade é aquela que ensina com qualidade e que não exclui. Sendo assim, a formação do professor deve estar inserida na conscientização de que todos os seus aprendizes são aprendizes porque possuem de uma ou outra forma, a capacidade de aprender, indiferente da proporção em que ocorra este processo. Acreditamos não ser esta, uma tarefa fácil, mas imprescindível. Para tanto, a proposta deste artigo é o de provocar nos educadores o senso de busca para espaços de formação continuada e consequentemente o desvencilhar do individualismo ou da falta de coragem em dizer: “não sei como lidar com este ou aquele aluno, preciso de ajuda!”
Apesar de sabermos que a lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é garantida no Brasil, sabemos que a filosofia de educação inclusiva não está sendo efetivada como deveria em suas ações, nem para brasileiros, nem para os comprometidos com a educação cristã. Torna-se, portanto, emergencial o despertar para a nossa realidade nesse campo complexo e ainda deficitário. É preciso que se estabeleçam novos olhares compromissados para com esses alunos inseridos em nosso contexto educacional, e na medida do possível promover condições para que esse aluno possa obter meios de aprender do seu jeito e no seu tempo.
Seria excelente se as escolas contassem com materiais adequados e especialistas para as diferentes necessidades educacionais, mas já vimos que na realidade atual seria utópico conceber a escola por si só, tamanha responsabilidade. Entretanto, eficazes meios podem ser utilizados como: A integração com a família do educando e a informação e conscientização desta sobre as dificuldades nas condições pedagógicas e estruturais da escola, através de documentações plausíveis logo no ato da matrícula e quando necessário, subsequentemente, o encaminhamento do aluno a especialistas em seguimentos na área da saúde governamental ou particular que fornecerá algum tipo de assessoramento para a escola que por sua vez, fará através de sistematizados registros de acompanhamento pedagógico, um trabalho qualitativo que poderá ser apresentado para o professor da série seguinte, bem como para toda comunidade educativa que interdisciplinarmente prosseguirá com o devido acompanhamento.
Portanto, necessitamos elaborar através de pesquisas e grupos de estudos em formações continuadas, práticas de ensino adequadas ás diferenças, mesmo que tenhamos que reestruturar nossos projetos políticos pedagógicos e superar paradigmas ao priorizar a missão cristã e ética do nosso fazer pedagógico. Afinal, não seria esse um grande passo para mostrar ao mundo que acreditamos em uma educação igualitária, rumo a excelência que tanto sonhamos?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOFFMANN, JUSSARA. Avaliar para promover. 11ed. Porto Alegre: Edit Mediação, 2009.
EDLER, CARVALHO, ROSITA. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. 6ª ed. Porto Alegre: Edit Mediação, 2004.
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