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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Estilos de Aprendizagem



O Que é um Estilo de Aprendizagem?

Um Estilo de Aprendizagem é um método que uma pessoa usa para adquirir conhecimento. Cada indivíduo aprende do seu modo pessoal e único.
Um Estilo de Aprendizagem não é o que a pessoa aprende e sim o modo como ela se comporta durante o aprendizado.
Só lembrando, Estilos de Aprendizagem ajudam a explicar porque uma criança pode aprender a dizer todo alfabeto após ler um livro de alfabetização, enquanto que outras podem aprender a mesma coisa brincando com Blocos de Construção que tenham letras, e ainda outras podem aprender o mesmo cantando músicas como a Canção do ABC.
Atualmente, existem pelo menos Sete Estilos de Aprendizagem identificados:

Físico (indivíduo que usa muito a expressão corporal)

Interpessoal (indíviduo extrovertido)

Intrapessoal (indíviduo introspectivo)

Linguístico (aqueles que se expressam melhor com palavras)

Matemático (os que usam mais o pensamento/raciocínio lógico)

Musical (se interessam mais por sons e música)

Visual (exploram mais o aspecto visual das coisas)

Como São usados os Estilos de Aprendizagem?

Para exemplificar melhor, conhecendo o Estilo de Aprendizagem da criança você, ou o professor dela, estarão aptos a criarem programas educacionais que serão mais personalizados, mais motivantes e significativos no que diz respeito a eficácia e assim com resultados muito melhores.
Crianças adquirem conhecimento e absorvem o que aprenderam quando aquele assunto ou habilidade em jogo é ensinado a elas de um modo que há empatia entre a mesma e o tema abordado. Descobrir o Estilo de Aprendizagem da criança é descobrir como ensinar-lhe com mais eficiência e resultados.

Quem está usando os Estilos de Aprendizagem?

Professores tem usado o Conceito de Estilos de Aprendizagem por muitos anos. Enquanto nem todos os educadores usam o termo Estilos de Aprendizagem, muitos no campo da educação sabem que acontecem maravilhosas esperiências educacionais, quando ensinam às crianças com uma boa variedade de abordagens diferenciadas.
Eis porque existem tantas Canções, Jogos, Quebra-cabeças, Atividades e Livros disponíveis para ajudar a ensinar quase qualquer coisa. Não importa como a criança aprende melhor, existirão sempre recursos disponíveis para ajudar você a ensinar-lhe do modo mais adequado a ela.

Qual é a origem do conceito Estilos de Aprendizagem ?

Muitas teorias tem sido desenvolvidas nos campos da Educação e Psicologia para explicar como as pessoas pensam e aprendem. Um desses teóricos é o Dr. Howard Gardner, Psicólogo da Universidade de Harvard.
Em seu livro publicado em 1983, "Frames of Mind: The Theory of Multiples Intelligences", ele especula que os indivíduos não possuem uma inteligência fixa, mas pelo menos sete diferentes modos de aprender que podem ser desenvolvidos ao mesmo tempo.

Fisico:
As Pessoas com estas características são os inquietos, os fuçadores, os desmontadores de equipamentos e brinquedos, os que querem saber como funciona e ver por dentro, os que não conseguem ficar sossegados em seu lugar.
Eles são pessoas que não conseguem ficar sentadas por muito tempo. Eles simplesmente raciocinam melhor quando seus corpos estão em movimento. Eles interagem melhor com o mundo através do contato manual e corporal. Os "Aprendizes" físicos adoram esportes, inventar, construir e dançar.
Quando estão aprendendo ou adquirindo capacitação acadêmica, essas pessoas se beneficiarão mais com atividades de expressão corporal, manipulando e tocando objetos, realizando exercícios, etc.
Eis alguns exemplos de profissinais com estas características; Dançarinos, Atletas Profissionais, Cirurgiões, Mecânicos, Construtores, e todos os tipos de Artifícies em todas as áreas.

Resumo:

. Aprendem mais tocando e manipulando objetos

. Se sentem melhor aprendendo em movimento

. Tem boa coordenação motora e habilidade física

. Se ficam parados por longos períodos não pensam direito

Dicas para ensiná-los melhor:

. Realize aulas práticas com montagens e construções de objetos e simulações

. Inclua aulas virtuais em computadores

. Alterne seções teóricas e práticas durante a aula.

Intrapessoal:
São as pessoas solitárias, aquelas que marcham conforme o ritmo da sua própria conveniência, e podem ser descritas pelos outros como tímidas. Estas pessoas não são anti-sociais, eles apenas pensam melhor quando são deixados à vontade para ditarem seu próprio ritmo.
Elas se relacionam melhor com o mundo sob uma ótica independente e através da auto-reflexão. Atividades que pessoas assim gostam e são bem sucedidas inclui escrever, pesquisar e explorar a Internet.
Quando estão aprendendo ou adquirindo capacitação na escola, os aprendizes Intrapessoais obterão melhores resultados com atividades onde possam trabalhar sozinhos, projetos independentes, e trabalhos de pesquisa.
Alguns exemplos de profissões para pessoas com este perfil são Psicólogos, Escritores, Filósofos, Programadores de Computador, etc.

Resumo:

. Rendem mais trabalhando sozinhos

. São persistentes e tentam várias alternativas para resolver problemas

. Tem um raciocínio lógico muito apurado e são reflexivos

Dicas para ensiná-los melhor:

. Realize projetos independentes com eles

. São pesquisadores natos, use e abuse de trabalhos de pesquisa

. Trabalhos em grupo só em último caso, preferem seguir seu próprio caminho.

Interpessoal:
São as pessoas conhecidas com os ajudantes de plantão, os assistentes comunitários, os autênticos carregadores da equipe. Elas conseguem o melhor de si quando podem defender suas idéias e podem ajudar os amigos a resolverem problemas.
Elas se relacionam melhor com o mundo através de suas interações com os outros e um entendimento de como as pessoas trabalham em grupo. As atividades onde terão melhores resultados são equipes esportivas, grupos de discussões e organização de eventos.
Quando estão assimilando novas informações ou desenvolvendo sua capacitação na escola, elas obterão melhor desempenho com Jogos em Equipe, Trabalhos de Pesquisa em Grupo, ou trabalhando em pequenas equipes.
Alguns exemplos de profissionais com este perfil são Conselheiros, Advogados, Professores, Políticos, Treinadores, Executivos, e Artistas tai como; Atores, Comediantes, etc.

Resumo:

. Rendem mais trabalhando em grupos

. Gostam de ajudar, ouvir e dar opiniões. Adoram viver rodeados de gente

. São organizadores natos de eventos e festas

Dicas para ensiná-los melhor:

. Realize projetos em grupos com eles

. São excelentes ouvintes

. Organize trabalhos onde possam lidar com o público, debates, entrevistas.

Linguístico ou Verbal:
São as pessoas conhecidas como os comedores de livros, os artesões das palavras, e pessoas que sempre sabem o vão falar. Estas pessoas são aquelas que causam impacto quando se expressam através de palavras faladas ou escritas.
Elas se relacionam melhor com o meio através da linguagem. Estes indivíduos podem obter melhores resultados com atividades que incluam o uso da palavra falada, escrita de Poemas e leitura Literária.
Quando estão aprendendo ou construindo sua capacitação profissional, elas se beneficiarão mais como Contadores de Histórias, Conferencistas, na condução de Entrevistas, Leitura e Escrita.
Algumas profissões de pessoas com essa natureza são Autores de Peças de Teatro ou Novelas, Jornalistas, Conferencistas, Redatores de Publicidade, etc.

Resumo:

. Adoram ler e contar histórias

. Tem uma excelente memória e capacidade de organizar tramas literárias

. Tem boa fluência verbal e facilidade para se expressar

Dicas para ensiná-los melhor:

. Realize projetos literários com eles, vão adorar

. Realize concursos para redação de textos publicitários

. Realize debates de temas polêmicos, criação de uma peça de teatro, etc

Matemático:
São as pessoas conhecidas como os gênios matemáticos, os apaixonados por jogos, e os seguidores e defensores das teorias Científicas. Isto não quer dizer que para concordar com alguma coisa esta precise ser provada cientificamente, isto significa apenas que eles pensam de acordo com o padrão lógico.
Sua relação com o mundo é melhor através do Raciocínio, Números, Padrões e Sequências. As atividades que mlehor de indentificam com eles incluem contagem e classificação de objetos, criação de tábuas cronológicas e tabelas, e solução de problemas complexos.
No desenvolvimento de sua capacitação na escola, elas obterão melhor desempenho com Experiências Científicas, Acompanhamento passo-a-passo de processos, e usando cálculos matemáticos.
Alguns exemplos de profissionais com este perfil são Cientistas, Matemáticos, Advogados, Contadores, etc.

Resumo:

. Adoram tudo que esteja relacionado com números

. Gostam de jogos de todos os tipos

. Tem um raciocínio lógico muito apurado

. Conseguem assimilar fácilmente a realização de processos complexos

Dicas para ensiná-los melhor:

. Ao ensiná-los é preciso que os assuntos tratados possam ser comprovados

. São relutantes em aceitar as leis da tradição. Sem provas, nada feito

. Realize projetos onde possam organizar e classificar coisas e objetos

. Realize projetos de pesquisas cientifícas ou comportamentais

Musical:
São aquelas pessoas que vivem cantando ou entoando algum som mesmo com a boca fechada, os cantores e aqueles descritos com tendo um ouvido musical. Vêem sons em tudo. Eles podem não serem os melhores cantores ou músicos, mas eles tem uma habilidade natural para interagir e entender os sons, musicais ou não.
Sua relação com o mundo é através dos sons e ritmos sonoros. As atividades que podem ser mais proveitosas para elas são ouvir músicas, tocar instrumentos, interpretar sons, e cantar.
Quando estão aprendendo ou adquirindo capacitação acadêmica, essas pessoas se beneficiarão mais escrevendo letras e canções para músicas, tocando instrumentos para acompanhar seus trabalhos ou de outros, ou desenvolvendo projetos de multimídia.
Eis alguns exemplos de profissinais que aplicam seu Estilo Musical no trabalho são Cantores, Músicos, Maestros, Engenheiros de Sons, Produtores Musicais, Web Designers, etc.

Resumo:

. Adoram tudo que esteja relacionado com sons e músicas

. Gostam de cantar, interpretar e escrever músicas

. Tem um ouvido muito sensível para interpretar todos tipos de sons

Dicas para ensiná-los melhor:

. Realize projetos para criação teatros musicais

. Realize projetos onde possam escrever letras para músicas já existentes

. Realize projetos de pesquisa, biografia e bibliografia musicais

. Realize projetos para criação de trabalhos em multimídia

Visual:
Estas pessoas são os modernos Picassos e Renoirs, os grafiteiros e rabiscadores, e indivíduos que tem um talento natural para as cores e para harmonizar ambientes. Os indivíduos Visuais parecem ter um senso artístico que faz com que tudo criem pareça agradável aos olhos.
Sua relação com o mundo é através de pinturas e imagens. As atividades que podem ser mais proveitosas para elas incluem pintura, escultura, e a criação de artes gráficas.
Quando estão aprendendo ou adquirindo capacitação acadêmica, essas pessoas se beneficiarão mais com desenho e criação de diagramas inclusive gráficos, leitura cartográfica, criação de mapas, ou realizando demonstrações
Eis alguns exemplos de profissinais que aplicam seu Estilo Visual no trabalho são Arquitetos, Pilotos, Marinheiros, Pintores e Escultores, Web Designers, Criadores de Anúncios Visuais, etc.

Resumo:

. Tem uma grande facilidade para organizar com harmonia ambientes

. Obras de arte, pinturas, gravuras, cores, seu mundo é quase só isso

. Para aprender precisam ver o trabalho sendo realizado

. São artistas plásticos em potencial

Dicas para ensiná-los melhor:

. Realize projetos onde possam criar cenários para peças de teatro

. Faça um projeto para a criação de um Site para a turma ou escola

. Peça para que criem apresentações multimídia dos trabalhos da escola

. Realize projetos com interpretação de mapas, diagramas e obras de arte

. Use e abuse de ilustrações, gráficos, slides, filmes, etc, em suas aulas

Meu Filho pode ter mais de um Estilo de Aprendizagem?

Sim. Cada indivíduo está apto a usar todos estes diferentes métodos durante seu aprendizado, portanto todas as pessoas são capazes de usar todos os Estilos de Aprendizagem. No entanto, o mais comum é que a pessoa tenha um ou dois Estilos que trabalham melhor para ela quando estão aprendendo. Assim, há o Estilo primário (o dominante) e o secundário.

Se meu Filho é particularmente forte em uma área, isto que dizer que não posso ou não devo tentar um outro Estilo?

Para um resultado mais eficiente durante seu aprendizado, é recomendado uma abordagem em cima do Estilo de Aprendizagem predominante. Mesmo assim, as crianças deverão ter diferentes oportunidades para usar o Estilo dominante, como também para trabalhar no desenvolvimento de outros Estilos.

Se meu Filho é particularmente fraco em um Estilo isto quer dizer que devo ajudá-lo a fortalecer este Estilo?

Em primeiro lugar, ser "fraco" em um Estilo, não significa que a criança não tem a capacidade de aprender. Isto simplesmente quer dizer que algumas abordagens não serão muito eficientes para que a criança de adapte a este tópico, matéria, ou capacitação a qual ela está sendo submetida. Assim, a resposta a esta questão é a mesma da anterior. A criança deve ter diversas e diferentes oportunidades de exercitar o Estilo no qual ela é mais forte, como também ir trabalhando aos poucos em outros Estilos. Não há problema algum em tentar melhorar seu Estilo de Aprendizagem; no entanto para melhores resultados durante seu aprendizado e desenvolvimento pessoal, é recomendável uma atuação mais efetiva e direta em cima do Estilo predominante nela.

Pessoal... infelizmente esqueci de copiar o link deste texto... se ele pertence a você me informe, que exporei os devidos créditos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Newsletter 10.2010 - www.educacaoadventista.org.br



Recorde de acessos
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Com a média de aproximadamente 1 milhão de pageviews* por mês, o Portal bate mais um recorde de acessos. Em setembro, recebemos 1.168.637 pageviews. O recorde anterior foi em maio, com 1.164.592. Parabéns à rede!

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Em comemoração ao dia 15 de outubro, a CPB preparou uma homenagem aos educadores da Rede de Escolas Adventistas, que está disponível no Portal.

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Ser criança é ser feliz! Veja as sugestões de programa para a Semana da Criança: atividades recreativas, campanha solidária, oficina de brinquedos, gincana infantil e muito mais.

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A influência das correntes marítimas – Em complemento à matéria apresentada em sala de aula, os professores de Geografia podem trabalhar este conteúdo com os alunos do Ensino Fundamental II.
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Este criativo macete ajudará os alunos na memorização das principais fórmulas da pressão.

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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

PRINCÍPIOS E LIMITES NA EDUCAÇÃO INFANTIL





  Léia Karina Pablos - Professora da Escola Adventista Centro América,
licenciada em Pedagogia pela Faculdade AVEC –
Associação Várzea-grandense de Ensino e Cultura. E-mail: leia_lkp@hotmail.com
(Trabalho resultante do PQD - Prêmio de Qualificação Docente 2008,
Incluso na Revista Digital - PQD 2008 - Rede Adventista AMT)

RESUMO


A presente reflexão tem como objetivo apresentar a importância de estabelecer uma aproximação a respeito de alguns princípios na educação infantil, que possibilitará à criança o exercício da autonomia para se expressar, da sensibilidade e respeito ao outro, para abrigar diferentes opiniões e sentimentos. Pensa-se em uma construção de princípios e limites que permita o desenvolvimento da alteridade na convivência coletiva, com acolhimento das diferentes singularidades. O vínculo afetivo com o professor torna-se essencial ponto de partida para toda uma ação pedagógica, que usando de estratégias eficazes, poderá desenvolver na criança o sentido ético de escolher o melhor para todos quando decide o que é melhor para si.

Palavras-Chave: Limites, princípios, indisciplina, afeto.


Introdução

Nos nossos dias, cada vez é mais difícil estabelecer limites na educação infantil e fazê-los respeitar. Hoje, a posição do aluno é muito diferente da que conheceram o seu pai e o seu avô. Estes viveram entre a Família e a Escola, em meios homogêneos, onde toda a gente admitia os modos de vida aceitos pela maioria e rejeitava quaisquer outros. Com o efeito da evolução das condições gerais de vida, em todos os meios, as crianças tornaram-se mais independentes, menos dispostas a obedecer à autoridade dos adultos.

As pessoas que rodeiam o aluno, mais propriamente as pessoas da família, influem muito no seu comportamento, pois a criança nasce no seio desta, sendo, portanto, os pais os verdadeiros educadores, a escola apenas reforça essa educação. A extraordinária influência dos que quotidianamente tratam com os alunos reflete-se em muitos dos atos praticados por eles.

A noção de limites está relacionada com a noção de disciplina. Essa concepção de disciplina ou limites, no entanto, baseada em um paradigma estímulo-resposta, tende a cair em descrédito atualmente, pois as pesquisas têm mostrado a necessidade de levar a criança a compreender a relação entre os limites e os princípios morais.

Todos nós temos modos peculiares de educar, adotando um determinado estilo parental, tendo em conta os valores que nos foram transmitidos, bem como, o ideal de educação que fomos construindo.


No intuito de cumprir da melhor forma possível a nossa tarefa, enquanto professores é essencial que possamos refletir sobre os modos de agir com as crianças, desenvolvendo princípios, regras e limites, pois, só assim, a criança terá a oportunidade de ampliar a sua consciência moral e gerir as suas próprias emoções.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos educadores hoje nas escolas é conseguir trabalhar com a falta de limites dos alunos quase sempre oriundos da falta de princípios que possam nortear o comportamento de convivência saudável com outras pessoas. A incoerência é uma característica comum verificada na grande maioria de nossas crianças.

Este tema é, sem dúvida, demasiado vasto. Tendo em vista a sua amplitude, serão tratadas apenas algumas vertentes, não numa perspectiva de meta de chegada de conhecimentos definitivos, mas de ponto de partida para outras abordagens interativas do ato educativo.

Como o limite constitui, atualmente, uma das questões que são bem discutidas no âmbito escolar, não podia deixar de serem referidos, também, os efeitos positivos que ele produz em relação às crianças.

Portanto, o objetivo que se propõe o presente artigo será identificar concepções de princípios e limites e a falta dele, e como professores e pais poderão utilizar de estratégias e incorporarem no seu cotidiano.

Alguns fatores apontam as causas da falta de limites na educação das crianças de um modo geral, destacando os valores morais e religiosos que sumiram da sociedade moderna. Outro aspecto importante é a ausência dos pais na vida da criança, deixando a educação dela aos cuidados das instituições educacionais.

Esta omissão na educação gerou um sentimento de culpa nos pais, que, para compensar, acabam sendo permissivos em demasia com os seus filhos. É de suma importância o “não” dos pais, assim o filho aprende que na vida nem sempre será feita a sua vontade e que ele precisa atingir a maturidade na idade adulta, caso contrário será uma eterna criança mimada.

No âmbito da educação infantil, a inter-relação da professora com o grupo de alunos e com cada um em particular é constante, dá-se o tempo todo: na sala, no pátio ou nos passeios, e é em função dessa proximidade afetiva que se dá a interação com os objetos e a construção de um conhecimento altamente envolvente.


No Dicionário Aurélio (1994), o verbete afetividade está definido da seguinte forma: “Psicol. Conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza.”

Portanto, a afetividade exerce um papel fundamental nas correlações psicossomáticas básicas, além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, a vontade e as ações e ser, assim, um componente essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade humana.

(...) o educador serve de continente para a criança. Poderíamos dizer, portanto, que o continente é o espaço onde podemos depositar nossas pequenas construções e onde elas tomam um sentido, um peso e um respeito, enfim, onde elas são acolhidas e valorizadas, tal qual um útero acolhe um embrião. (SALTINI, 1997, p. 89)
Na condição de educador, é preciso estar atento ao fato de que, enquanto não se der atenção ao fator afetivo na relação educador-educando, corre-se o risco de se estar só trabalhando com a construção do real, do conhecimento, deixando de lado o trabalho da constituição do próprio sujeito, que envolve princípios e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento integral.

A educação compreende mais que conhecimentos de livros. A devida educação inclui, não somente a disciplina mental, mas aquele cultivo que garante a sã moral e o correto comportamento. (Conselhos sobre Educação - Ellen White, p. 52)
Quem corrige, mesmo querendo o bem do outro, corre o risco de ser mal interpretado, contudo, demonstra um grande amor e cuidado com o outro. Só quem nos ama nos diz “não”. Para educar é preciso esforço, dedicação, perseverança, paciência, sobretudo, amor.

No entanto, no trabalho cotidiano em sala de aula, é possível presenciar, diariamente, cenas de indisciplina das crianças e questionamentos às regras da escola, e quando isso ocorre nos deparamos com aquelas crianças que chamamos de “criança difícil”.

A criança difícil é aquela que coloca repetidamente em perigo a si mesma ou a outros ou que perturba regularmente as atividades de outros por um comportamento descuidado ou agressivo.


O resultado são confrontações diárias, colegas aborrecidos e freqüentes interrupções nas atividades planejadas.

Assim fala MIELNIK (1982):

Crianças excessivamente inquietas, agitadas, com tendências à agressividade, se destacam no grupo pela dificuldade de aceitar e cumprir as normas, às vezes, não conseguindo produzir o esperado para sua idade. Estas crianças representam um desafio para suas famílias e escola, cabendo a estes estabelecer os métodos de orientação mais condizentes a cada situação e estabelecer os níveis de regimes necessários para obtenção da disciplina.(p. 60).
A rejeição e a desaprovação são sentimentos de inferioridade e má-vontade para com os outros. Uma criança rejeitada pelo grupo pode tornar-se mal comportada para chamar atenção sobre si e desta forma aumentar suas sensações de importância individual.

A criança busca sempre a aprovação de outra pessoa, isso é o que ocorre em um contexto social quando um indivíduo provoca uma resposta de outro ser humano. É importante saber que as respostas não precisam ser positivas para significarem aprovação.

Por exemplo, a criança que apanha do pai e só assim tem sua atenção pode achar (inconscientemente) que a violência é um meio efetivo de obter aprovação social.

A criança difícil é difícil de amar, pois seus comportamentos são aleatórios.

Uma estratégia importante é conversar com a criança para compreender sua maneira de se comportar. Após um episódio perturbador, pedir que a criança fale de seus sentimentos e que explique o mau comportamento é útil. O objetivo é ajudar a criança a reconhecer sentimentos e identificar reações emocionais e comportamentais que seguem um padrão.

Pedir para que ela pense como os outros pensam, é apoiar sua construção de visões alternativas de determinado evento, contudo, o encorajamento do grupo para expressar seus sentimentos abertos e honestamente, ajudará ela se confrontar com os seus aspectos hostis do mau comportamento.

Isso fará que a criança comece a reconhecer e rotular sentimentos que não são conscientes. Desafiando-a perceber-se quando quer chamar a atenção, por exemplo.


Uma das primeiras lições que a criança precisa aprender é a lição da obediência. Antes que fique bastante idosa para raciocinar pode ser ensinada a obedecer. Deve estabelecer-se o hábito por meio de um esforço brando e persistente. Assim se podem evitar em grande parte aqueles conflitos posteriores entre a vontade e a autoridade, os quais tanto concorrem para criar hostilidade e amargura para com os pais e professores, e muito freqüentemente, resistência a toda autoridade, humana ou divina. (Conselhos sobre Educação, Ellen White, p. 287)
O objetivo do professor é ajudar a criança a conscientizar-se de seus sentimentos e padrões de reação, bem como oferecer modos alternativos de sentir e reagir. Por exemplo: para uma criança que sempre é a última a chegar à fila, a professora pode oferecer a ela a sugestão de ser sempre a última para ter certeza que todos já chegaram à fila. Esta intervenção paradoxal é efetiva quando traz a consciência da criança sua intenção de ser a última a fim de controlar o grupo e chamar a atenção. Com a sugestão a professora ofereceu um meio direto e aceitável de controle. A criança pode optar por continuar a comportar-se deste modo de acordo com a intenção consciente.

Outro exemplo é trabalhar para valorizar algo da criança (um jogo ou livro que ela traga, ou uma sugestão que faça etc.) e refazer os conceitos e padrões estabelecidos pelo grupo. Sugerir que o grupo mostre como apreciaram a novidade que ela trouxe ou como foi boa sua sugestão. Pensar em modos de construir elos de amizade pela análise das qualidades da criança difícil. À medida que a criança difícil começa a ter experiências mais positivas com os outros é possível que também comece a vincular novos sentimentos positivos a certas interações com outros.

O desafio do professor é ajudar para que a criança tenha repetidamente essas experiências e, assim, possa construir os novos valores como algo permanente. Isto ocorre com tropeços e gradualmente ela os consolidará. É importante que a criança comece a exercitar a vontade, que faça escolhas conscientes nas suas relações com os outros.

Segue algumas diretrizes para lidar com a “criança difícil”: Respeitar, valorizar e acreditar na criança, superando a reação de rejeição do grupo; Reconhecer a necessidade subjacente de formar conexões e vínculos com outros e sua capacidade potencial para superar problemas; Quando a criança testar os limites do professor as respostas devem ser assertivas, pois ela é capaz de sentir qualquer sinal de hesitação; Não reagir com rejeição ou deixar de aprovar, negando os conflitos emocionais da criança, pois fortalecerá mais ainda o sistema de crenças da criança difícil; Não duvidar da capacidade da criança de resolver seus conflitos e cooperar com os outros, pois com esta dúvida ela se conscientizará de sua inadequação; Comunicar respeito, aprovação e fé na criança, reconhecendo seus pensamentos, sentimentos e comportamentos; Aceitar o que ela diz, sente e faz escutar e responder; Prestar atenção na criança. Reconhecer com contato ocular direto ou com um simples gesto de cabeça, ou um “sim” ou “entendo”; Usar a “escuta reflexiva”, repetindo o que a criança disse, tentando entender seus pensamentos e sentimentos, sem julgamentos ou críticas. Isto não quer dizer concordar com o que foi dito; Marcar encontros com a criança para expressar seus sentimentos, mostrando seu carinho e sua preocupação.


Trabalhar deste modo com todas as crianças são princípios que serão úteis para lidar com qualquer criança em momentos difíceis.

Ouço depoimentos de professores relatando histórias de alunos que se negam a fazer lições de casa ou a estudar determinado tema, ou a participar de um trabalho coletivo e, como justificativa, estas crianças dizem que não querem, que é chato. Quando os professores insistem, dando um limite claro, que é importante e necessário fazer determinada atividade escolar, elas replicam, revestidas de autoridade, que não querem fazer e que não vão fazer.

E agora? Como proceder? Estas crianças acreditam que só devem fazer o que lhes dá prazer, o que elas aceitem. Não aceitam submeter-se a um processo mais trabalhoso e mais elaborado. Não aceitam os procedimentos necessários à aprendizagem. Não querem, como se diz em linguagem popular, suar a camisa. Se estes professores recorrem aos pais, eles replicam: "Você viu só? Ela só faz o que ela quer..." ou ainda: "Ele é fogo, não obedece mesmo!".

Muitos pais acreditam que, por não estarem dando a atenção que gostariam de dar a seus filhos, não têm o direito de lhes exigir responsabilidade. "Ela ainda é uma criança...", pensam.

Outra situação relacionada ao fato da culpa por não estar mais perto de seus filhos é o hábito de dar coisas para compensar a ausência, como se este procedimento os redimisse e os tornassem bons pais e merecedores do amor e admiração de seus filhos. Acabam construindo um circuito de prazer em que a frustração deve ser evitada a todo o custo. Quem não se propõe a trabalhar suas dificuldades, a viver situações de estresse e de frustração e a entender a dinâmica social, não poderá inserir-se adequadamente neste contexto. Vale dizer que, ao poupar uma criança do trabalho de crescer, a condenamos a ser eternamente uma criança, imatura e despreparada para o convívio e para o exercício da cidadania.


Os porquês, os princípios e os limites são fundamentais para que a criança entre no universo da razão. É esperado que uma criança só queira viver coisas que lhe deem prazer; no entanto, é fundamental que seus pais e professores lhe mostrem que o esforço faz parte das conquistas. Ninguém morre por não ser atendido em um desejo.

O objetivo da disciplina é ensinar à criança o governo de si mesma. Devem ensinar-se-lhe a confiança e direção próprias. Portanto, logo que ela seja capaz de entendimento, deve alistar-se a sua razão ao lado da obediência. Conselhos sobre Educação, Ellen White, p. 287.
Inicialmente, uma criança obedece por respeitar a pessoa que impõe o limite. Depois, com a repetição e o entendimento de sua lógica, a criança compreende e aceita o limite, e este passa a ter um sentido social, além de uma lógica pessoal. Para que isso ocorra, são necessários muitos "nãos" e seus devidos "porquês", além de uma boa dose de paciência, de escuta e de atenção.

Algumas atitudes favorecem a educação e a colocação de limites que na maioria das vezes, um "não" é uma forma de querer bem à criança, de mostrar preocupação com ela, de mostrar proteção. Fica claro que as crianças necessitam de uma definição clara da conduta aceitável e inaceitável. Sentem-se mais seguras quando conhecem o que podem e o que não podem fazer.

Muitos alunos não respeitam seus professores, e essa indisciplina prejudica o ensino e a aprendizagem. A escola, juntamente com seus professores e orientadores estão tendo dificuldades em estabelecer limites na sala de aula, bem como intervir nos seus maus comportamentos.

Percebe-se que cada vez mais os alunos vêm para a escola com menos limites trabalhados pela família. Muitos pais chegam mesmo a passar toda a responsabilidade para a escola e acabam exigindo da mesma uma postura autoritária.


Para que haja uma mudança, é preciso que alguns papéis sejam resgatados. A família deverá ter participação efetiva, tanto na educação, quanto no aprendizado e, principalmente, na questão dos princípios.

Segue algumas atitudes do professor que favorecem a relação com os alunos: Manter sempre os alunos ocupados porque nada favorece tanto a indisciplina como não ter nada que fazer; Evitar centrar-se num aluno, pois os outros ficarão entregues a si mesmos; Não fazer alarde de rigor. Quando for necessário corrigir, fazê-lo com naturalidade e segurança; Aproximar-se dos alunos de modo amigável, tanto dentro como fora da escola; Estar a par dos problemas particulares dos alunos para poder ajudá-los quando necessário; Se tiver de fazer uma admoestação, que esta seja firme, mas que nunca ultrapasse a linha do amor próprio e seja de preferência em privado; Ser coerente e não justificar as incoerências. Quando houver alguma incoerência o melhor é reconhecê-la e honestamente retificá-la; Ao aplicar-se um castigo deve ser mantido e cumprido, a não ser que haja um grande equívoco que justifique uma mudança de atitude; Não se deve castigar sem explicar clara e explicitamente o motivo do castigo; Evitar ameaças que depois não possam ser cumpridas, pois isso tira o prestígio do professor; Há que ser pródigo em estímulos e reconhecimentos de tudo o que de bom faça o aluno, embora sem exageros ou formas que pareçam não serem sinceras; Mandar o menos possível. O ideal é conseguir com o mínimo de ordens. Mandar o estritamente necessário e com a certeza de que vamos ser obedecidos; A correção deve ser: silenciosa: falar em voz baixa e só por necessidade; sossegada: sem perturbação, impaciência ou exaltação; afetuosa: persuadir pelos sentimentos afetuosos e não pelo discurso; Saber manter o equilíbrio entre a dureza e a amabilidade. A jovialidade e a alegria do professor devem manifestar-se, em todas as circunstâncias.

As crianças precisam de regras vindas de seus educadores, que não podem se esquivar da tarefa de colocar os limites necessários para que elas se desenvolvam bem e consigam se situar no mundo.

Esse estudo terá como metodologia inicial a pesquisa bibliográfica, buscando conhecer a opinião dos diversos autores que comentam o assunto através de livros, artigos, Internet e demais meios disponíveis para consulta.


O método que será utilizado para o desenvolvimento desse trabalho consiste no uso das estratégias de convivência proposta neste artigo, bem como confecção de cartazes ilustrativos do que é e do que não é permitido fazer na escola, como por exemplo, utilizando alguns sinais: Proibição; Obrigação; Rostinho triste, quando um aluno faz algo errado; Rostinho feliz, quando ele tem um bom comportamento.

O presente trabalho será proposto aos alunos da Educação Infantil (Jd. I) do Ensino Fundamental, da Escola Adventista Centro América, pelo fato de haver nesta sala de aula, alguns alunos com problemas de indisciplina, e falta de limites.

A partir desse diagnóstico, serão aplicadas algumas estratégias mencionadas neste artigo, com as quais os alunos aos poucos irão se descobrindo conhecedores da ética e do bom relacionamento.

Conforme a proposta de pesquisa desenvolvida, os resultados obtidos serão possivelmente satisfatórios, tendo em vista este ser um trabalho de caráter contínuo e de longo prazo.



Considerações finais

É preciso considerar os obstáculos envolvidos na construção dos conceitos referente aos princípios, limites e a falta dele.

Acredito que o estabelecimento de princípios e limites está intimamente ligado a um processo que se inicia praticamente desde a barriga da mãe, onde o bebê sente a relação de aceitação, proteção, amparo, orientação, os quais são elementos essenciais para a sua formação.

Estes limites deverão ser claros, constantes e confiáveis para orientar com segurança o caminho a ser percorrido. Limites estes que deverão ser estabelecidos com amor, respeito, carinho, paciência e tolerância, mas também, com firmeza e convicção.

Considerando que a formação de princípios é uma preocupação comum em todo o sistema educacional, pais, familiares, escola, comunidade e a sociedade de um modo geral compartilham da responsabilidade pela educação de nossas crianças.


Portanto, devemos ter sempre em mente que quem educa a criança é o adulto, sendo assim, o tipo de educação dado à criança vai depender do adulto. Este adulto deverá ser seguro e confiante em si mesmo, certo de sua iniciativa e atitudes. Principalmente deverá amar a criança, procurando compreendê-la e aceitá-la sem exageros em suas exigências.



Referências bibliográficas

DeVries, Rheta, A ética na educação infantil: o ambiente sócio - moral na escola.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

DICIONÁRIO AURÉLIO. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Nova Fronteira.

MIELNIK, Isaac. O Comportamento Infantil: Técnicas e Métodos para entender Crianças. 2.ª edição, São Paulo: Ibrasa, 1982.

Revista Urutágua, Centro de Estudos Sobre Intolerância - Maurício Tragtenberg Publicada em 03.12.04 - Última atualização: 18 agosto, 2005.

Revista Leonardo Pós, vol. 1 n.3 - ago.-dez./2003, Órgão de Divulgação Científica e Cultural do ICPG 28.

SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade & Inteligência. Rio de Janeiro: DPA, 1997.

WHITE, Ellen – Conselhos sobre Educação.

http://nuep.org.br/apr.php

WWW.recantoinfantil.com.br

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

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terça-feira, 5 de outubro de 2010

Métodos de alfabetização e consciência fonológica: o tratamento de regras de variação e mudança ( a sair na revista SCRIPTA da PUC/MG)

A Dra Stella Bortoni - UnB, tem sido uma grande colaboradora do nosso BLOG, já que permitiu reproduzirmos aqui conteúdos de seu site, lá você encontrará o artigo completo... como tive problema de configurá-lo, tive que fazer recortes do mesmo.
Aproveitem a leitura deste artigo de sua autoria...





O foco deste artigo é o desenvolvimento da consciência fonológica como requisito para qualquer método de alfabetização. Argumenta-se em favor da inclusão de regras variáveis fonológicas, inclusive as que se interseccionam com a morfossintaxe, como elemento importante nesse processo de conscientização lingüística. Examinam-se os altos índices de analfabetismo funcional no Brasil e os resultados mais recentes do SAEB referentes à compreensão da leitura. São analisados, em textos de alfabetizandos, marcas de oralidade, especialmente regras sociolingüísticas de variação e mudança produtivas no seu grupo social, bem como problemas que se pode atribuir ao caráter arbitrário de certas convenções ortográficas.
Palavras-chave: Consciência fonológica; Métodos de alfabetização; Marcas da oralidade na escrita de alfabetizandos; Convenções ortográficas; Fenômenos em processo de variação e mudança no português brasileiro.

As estatísticas referentes aos índices de alfabetismo no Brasil revelam um dos mais graves problemas sociais no país, não obstante esforços empreendidos pelo governo ou pela sociedade, principalmente a partir do século XX, com o crescimento da população residente em áreas urbanas. A preocupação com a solução desse problema está expressa na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, aprovada em 1996. Essa lei, que é a matriz da política educacional brasileira, estabeleceu em seu artigo 32 que o ensino fundamental, obrigatório e gratuito, que hoje em dia vem sendo ampliado de 8 para 9 anos nos sistemas estaduais de ensino, volta-se para o desenvolvimento da capacidade de aprender por meio do pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo. Consiste pois em uma salvaguarda legal de que todos os brasileiros sejam introduzidos na cultura de letramento, à qual têm acesso, historicamente, parcelas restritas da população brasileira.

[...]

Em 1958 a UNESCO definia como analfabeto um indivíduo que não consegue ler ou escrever algo simples. Duas décadas depois substituiu esse conceito pelo de analfabeto funcional, que é um individuo que, mesmo sabendo ler e escrever frases simples, não possui as habilidades necessárias para satisfazer as demandas do seu dia-a-dia e se desenvolver pessoal e profissionalmente. Pesquisas recentes conduzidas pelo Instituto Paulo Montenegro trabalham com esse conceito (ver www.ipm.org.br e Ribeiro, 2004).

O Quinto Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional, divulgado em setembro de 2005, por esse instituto, mostrou que só 26% dos brasileiros na faixa de 15 a 64 anos de idade são plenamente alfabetizados. Desses, 53% são mulheres, 47% são homens e 70% , jovens de até 34 anos.

Com o crescimento quantitativo das matrículas no ensino fundamental verificado nas últimas décadas, era de se esperar que, em poucos anos, o percentual de brasileiros plenamente alfabetizados chegaria aos níveis do que se verifica em países industrializados. Mas isso não vem ocorrendo porque a escola brasileira não tem propiciado a um grande contingente de seus alunos efetivo acesso à cultura letrada. Desde 1990 o Ministério da Educação vem conduzindo testes nacionais de compreensão de leitura e habilidades matemáticas com alunos na 4ª e na 8ª séries do ensino fundamental e na 3ª série do ensino médio, identificados pela sigla SAEB: Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica.

[...]

As deficiências no sistema escolar, que provocam repetências e evasões, são diretamente proporcionais ao índice de desenvolvimento humano das regiões. Nas regiões brasileiras onde esse índice é mais baixo, como as regiões Nordeste e Norte, são igualmente mais baixos os resultados do SAEB, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática. Já sabemos também que dois grupos de alunos no ensino fundamental obtêm os piores resultados no teste: alunos cujos pais não são alfabetizados e alunos com defasagem idade/série.

Pesquisadores de diversas disciplinas na área de ciências humanas têm conduzido pesquisas aplicadas que possam contribuir na solução do grave problema do analfabetismo no Brasil. Entre elas a Lingüística tem trazido uma significativa contribuição para o tratamento da leitura e da escrita no início da escolarização, mais propriamente do processo de alfabetização (cf. Abaurre-Gnerre 1984; Barbosa 1981; Cagliari 1996 e 1999; Faraco 1992; Kato 1992; Lemle 1987; Moraes 2000; Scliar-Cabral 2003; Tfouni, 1995; Kleiman e Signorini, 2000 inter alia). Ainda assim, dada a gravidade do problema, é desejável que mais pesquisadores na macro-área dos estudos da linguagem se detenham sobre esses temas, pois estamos falando de uma questão que certamente precisa merecer um tratamento multidisciplinar.

Neste artigo reflito, da perspectiva de uma sociolingüista, sobre a relação entre fala e escrita, enfocando exatamente os primeiros contatos sistemáticos dos falantes com a língua escrita, na escola.

Pesquisadores da área de alfabetização, em muitos países de escrita alfabética, argumentam enfaticamente que o reconhecimento das palavras desempenha um papel central no desenvolvimento da habilidade de leitura. Aprender a reconhecer palavras é a principal tarefa do leitor principiante e esse reconhecimento é mediado pela fonologia. Por meio da decodificação fonológica, o aprendiz traduz sons em letras, quando lê, e faz o inverso quando escreve. Reconhecem esses pesquisadores, entretanto, que tanto o processo da leitura quanto o da escrita envolvem muito mais que a compreensão do principio alfabético, que estabelece a correspondência entre grafemas e fonemas. Ler e escrever são processos complexos _ o segundo ainda mais complexo que o primeiro _ que exigem conhecimentos de natureza sintática, semântica e pragmático-cultural, que o leitor vai adquirindo à medida que amplia o seu léxico ortográfico, nos estágios subseqüentes à fase de alfabetização. Mas ressalvam que, na fase inicial da aprendizagem da leitura, a competência essencial a ser desenvolvida é a decodificação de palavras, o que por sua vez implica um processamento fonológico.

As teorias que partem dessas premissas enfatizam a consciência fonológica e o princípio alfabético e definem a primeira como o entendimento de que cada palavra _ou partes da palavra_ é constituída de um ou mais fonemas. Para a fonoaudióloga Lílian Nascimento, rimas, aliterações, consciência sintática, silábica e fonêmica são habilidades relacionadas à consciência fonológica[2]. Na mesma linha de pensamento Alliende e Condemarín (1987 p. 46) denominam consciência lingüística “o conhecimento consciente do indivíduo dos tipos e níveis dos processos lingüísticos que caracterizam as expressões faladas”, entre os quais o de codificar foneticamente a informação lingüística. Discutindo o papel da consciência fonológica na alfabetização, Carvalho (2005) alerta para a necessidade de que os alfabetizandos percebam a dimensão sonora das palavras, que são formadas por sílabas e fonemas.

Argumenta-se na literatura especializada, no Brasil e no exterior, que a ênfase no desenvolvimento da consciência fonológica dos alfabetizandos vai-lhes permitir compreender o princípio alfabético e segmentar seqüências fonológicas e ortográficas, levando-os à identificação das palavras e, em conseqüência, à compreensão do sentido do enunciado escrito (cf. Brasil. Câmara dos Deputados, 2003) [3]. Essas premissas estão na base de métodos de alfabetização denominadas “phonics” em inglês ou “fônica” ou modelos fônicos em português, que não devem, segundo seus defensores, ser confundidos com os antigos modelos de natureza comportamentalista, cuja prática pedagógica, essencialmente associacionista, consistia em estímulos e respostas. Tampouco ser identificados com a antiga calistênica fonológica, em que as palavras eram quebradas em sílabas e os alfabetizandos levados a recitar as sílabas numa seqüência em que o núcleo silábico ia-se alterando[4] [5] .

Em alguns países, como os Estados Unidos, Inglaterra e França, a ênfase na consciência fonológica tornou-se elemento fulcral nos processos de alfabetização. Nos dois primeiros, esse movimento denominou-se “Back do Phonics” e representou uma reação aos modelos de “Whole Language”, muito difundidos na segunda metade do século passado que, por sua vez, já constituíam uma reação aos métodos comportamentalistas vigentes até então. Vejamos o que diz a educadora britânica Lesley Clark a respeito da fônica: “Ensinar a relação entre sons e letras é fundamental para desenvolver a alfabetização. Antes que uma criança possa decodificar ou codificar, usando um léxico de sons, ela tem de ser capaz de distinguir padrões sonoros e de saber o que significam conceitos como som, letra e palavra”. (Clark, 1999 p. 1, traduzido). Na Inglaterra os parâmetros da política de alfabetização, reunidos na “National Literacy Strategy” (NLS), foram desenvolvidos, ainda segundo Lesley Clark, com o objetivo precípuo de superar deficiências identificadas nos métodos anteriores, atribuídas à falta do tratamento fônico, explícito, contextualizado e progressivo. Mas a autora pondera que uma ênfase demasiada na decifração da palavra pode ser prejudicial ao processo de aprendizagem e que o ensino criativo da fônica deve estar firmemente enraizado numa experiência significativa de aprendizagem da leitura em que as palavras estão contextualizadas em textos que despertem o interesse dos aprendizes, sejam motivadores e pertençam ao seu universo cultural.

Neste capítulo estou trabalhando com os pressupostos de que a leitura e a escrita são parasitárias da fala e de que o desenvolvimento da consciência fonológica favorece a compreensão do princípio alfabético subjacente à ortografia do português e de um grande número de línguas. Isso não implica aceitar, contudo, o retorno de práticas comportamentalistas, baseadas em estímulo e resposta, no processo de alfabetização. Nem tampouco minimizar a importância do contexto na leitura das palavras, que têm de estar inseridas em textos significativos e atraentes. Alinho-me com a pesquisadora do Ceale, Isabel Frade, (Magalhães, 2005 p. 8) quando diz:

No final da década de 1980 e início dos anos 1990, chegou a ser questionada a possibilidade de se fazerem livros para alfabetizar. Os educadores trabalhariam com textos diversificados, sempre nos suportes em que circulam na sociedade: bulas, embalagens, livros e revistas. Já no final da década de 1990, houve uma volta à defesa dos livros para alfabetização mais semelhantes a livros de leitura, mas que davam pouca ênfase à relação fonema-grafema. Esse modelo é comum até hoje, porém há uma tendência de os livros tentarem equilibrar o trabalho de compreensão de textos, seus usos sociais e diferentes gêneros textuais com atividades de leitura e escrita que exploram as relações fonema-grafema. [6]
A pesquisadora ressalva ainda que o professor tem que entender o porquê de cada procedimento em seu trabalho pedagógico de alfabetização.

Se tomarmos como premissa que a competência oral dos alfabetizandos lhes fornece subsídios para que possam realizar um trabalho criativo de construção de hipóteses quando deparam com a necessidade de ler e escrever, podemos argumentar que é uma grande vantagem alfabetizar crianças em sua língua materna. No caso brasileiro, a grande maioria das crianças que chega às escolas já é falante competente do português como língua materna [7]. Essa é uma situação infinitamente mais favorável à aprendizagem da escrita que a situação dos países multilíngües do terceiro mundo, como é o caso das nações lusófonas africanas. Ali, a língua da alfabetização, nas escolas, é o português, mas a maioria das crianças não o tem como língua materna e sim os diversos crioulos de base portuguesa ou uma ou mais línguas e variedades de línguas de seu grupo étnico. Têm, portanto, de simultaneamente aprender uma língua estrangeira e adquirir as habilidades de decodificá-la e codificá-la, na leitura e na escrita, sem o apoio de sua competência na língua oral.

Estamos tão acostumados com a dupla condição de língua majoritária do português no Brasil e de principal veículo de expressão das culturas letradas no país, que nem sempre paramos para refletir que os saberes de oralidade, que a grande maioria dos nossos alfabetizandos já detêm quando chegam à escola, é um capital simbólico de muita importância no processo de alfabetização da população brasileira. No entanto, como já vimos, a alfabetização em nosso país carece melhorar muito, tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Cabe então refletir sobre a forma como a escola brasileira pode fazer o melhor uso desse capital, ou seja, como a escola poderá apoiar-se na competência lingüística que os alunos possuem para tornar mais fácil e eficiente sua aprendizagem da língua escrita.

Agregando à nossa premissa que as chaves para o processo de alfabetização são a decodificação de palavras e a compreensão do código alfabético e considerando ainda mais que, para cumprir esses requisitos iniciais, é necessário que o leitor noviço se familiarize com o processamento fonológico das palavras, segue-se, como um corolário, que a aquisição da consciência fonológica tem de estar no fulcro da reflexão sobre os métodos de alfabetização adotados no país e sobre as teorias que lhes dão sustentação. Isso é tanto mais importante porque, no Brasil, convivemos com um paradoxo: os cursos de Letras, onde os alunos têm oportunidade de se familiarizar com o sistema fonológico do português, não costumam dedicar-se à formação de alfabetizadores; seus currículos são voltados para o ensino da língua no ciclo final do ensino fundamental e no ensino médio. Já o curso de Pedagogia, ou o curso Normal Superior assumem a responsabilidade da formação dos alfabetizadores, mas não incluem em seus currículos disciplinas de Lingüística descritiva que possam fornecer aos futuros alfabetizadores subsídios que lhes permitam desenvolver uma consciência lingüística ou, mais propriamente, uma consciência fonológica.

Ao refletir sobre consciência fonológica e aprendizagem da leitura e da escrita neste texto, podemos começar fazendo distinção entre fonologia segmental e supra-segmental. [8]

No capítulo da fonologia supra-segmental os fenômenos que parecem refletir-se mais diretamente no processo de alfabetização são a tonicidade e o ritmo. É ainda Mattoso Câmara (1970, p. 63) que nos ensina que o acento em português tem tanto a função distintiva quanto a delimitativa. As sílabas pretônicas são menos débeis que as pós-tônicas. Na pauta acentual pode-se conferir à sílaba tônica o grau 3, obtendo assim o seguinte esquema: ...(1) + 3 + (0) + (0) + (0). Numa seqüência de vocábulos sem pausa, ou grupo de força, as sílabas tônicas que precedem ao último vocábulo baixam a uma intensidade 2. Pode-se assim depreender o vocábulo fonológico pela presença de uma tonicidade 2 ou 3 e delimitá-lo no grupo de força pelo contraste entre 0 e 1. Morfemas gramaticais constituídos por partículas átonas, quando proclíticos a um vocábulo fonológico, têm status de sílabas pretônicas desse vocábulo, com marca acentual 1. Quando enclíticos têm status de sílabas pós-tônica com marca acentual 0. Essa pauta acentual vai ter duas conseqüências importantes na produção escrita dos alfabetizandos. Primeiro, eles manifestam uma forte tendência a aglutinar os vocábulos fonológicos no interior de um grupo de força ignorando a convenção que determina que haja espaços entre as unidades mórficas quando essas são formas livres. Mattoso Câmara mostra que a falta de coincidência entre o vocábulo fonológico e o vocábulo formal pode decorrer da adjunção de formas átonas a um vocábulo fonológico ou da justaposição de dois vocábulos fonológicos que vão constituir um só vocábulo formal composto. O primeiro caso reflete-se na escrita do alfabetizando como hipossegmentação. O segundo pode dar origem a hipersegmentação.

Outra conseqüência importante da pauta acentual decorre da alofonia das vogais médias /o/ e /e/ em posição átona. Quando pretônicas a realização dessas vogais médias constitui uma regra variável; quando pós-tônicas a elevação é praticamente categórica no português do Brasil. Para Anthony Naro (1971 p.637) a elevação das vogais médias finais no português tem uma teleologia acústico-articulatória que deve ter ocorrido independentemente em Portugal, no Brasil e em outras regiões lusófonas. Trata-se de fenômeno característico da posição pré-pausa, isto é, do decréscimo típico do conteúdo de energia das ondas acústicas que constituem o fluxo da fala, depois da última sílaba tônica num enunciado declarativo normal. Como as vogais mais altas são em geral mais fracas que as médias, a elevação nesse contexto é uma conseqüência natural da perda de energia. Sendo a elevação das vogais medias átonas finais produtiva em praticamente todos os falares no Brasil, entendemos por que os alfabetizandos tendem a grafar os fonemas /e/ e /o/ de valor acentual 1 ou 0 com as letras “i” e “u”, respectivamente.

Encontramos ainda relacionada à pauta acentual explicação para a dificuldade que tem os noviços produtores de texto para grafar o ditongo nasal /ãw/. De acordo com as convenções ortográficas, grafa-se esse ditongo como “ão” em sílabas tônicas e como “am” em sílabas átonas finais. A dificuldade que se apresenta para o alfabetizando é identificar as sílabas átonas e tônicas no vocábulo.

Voltemos agora à fonologia segmental para analisar os principais processos fonológicos que se podem identificar na escrita dos alfabetizandos. Comecemos por aqueles que parecem estar relacionados a dois universais fonológicos, quais sejam, a preferência pela sílaba canônica CV e a pouca resistência que os segmentos átonos oferecem à redução e à mudança. Os processos básicos que operam na língua com as sílabas CVC são a desnasalização das vogais átonas finais, a supressão de segmentos consonânticos como /s/ e /r/ na coda silábica, a neutralização do /l/ e do /u/ pós-vocálicos e a redução de ditongos decrescentes. Esses processos incidem com mais freqüência na sílaba final da palavra, que pode sofrer a perda de um segmento ou até mesmo ser totalmente suprimida, como acontece em algumas variedades, por exemplo: ”perto de São Paulo” > “per’de São Paulo”. Outras regras variáveis fonológicas, como a neutralização das líquidas em sílabas de padrão CCV, processos que afetam as consoantes palatais, nasal e líquida, assimilação das consoantes oclusivas em seqüências homorgânicas como –nd e –mb e a prótese e aférese do /a/ poderão receber também alguma atenção neste texto à medida que se mostrarem produtivas no corpus analisado.

A tendência à transformação das sílabas CVC em sílabas CV pode estar associada ao ritmo silábico prevalecente em muitas variedades do português brasileiro, principalmente quando o comparamos ao português europeu, que apresenta uma tendência a um ritmo acentual com proeminência das consoantes à custa da qualidade das vogais átonas. Foi provavelmente na transição entre os séculos XVII e XVIII que a língua em Portugal começou a adquirir um ritmo em allegro com relevância das sílabas tônicas (Silva Neto, 1950/1977 p.148; Mattoso Câmara, 1975 p.32). Essa tendência não se transferiu para o português brasileiro que, comparado ao europeu, mantém-se mais próximo a um ritmo com razoável isocronia silábica. Mas convém ponderar, com Abaurre-Gnerre (1981), que o ritmo silábico no português brasileiro pode variar muito em relação às variedades regionais e principalmente à formalidade dos estilos. Estilos coloquiais tendem a um ritmo mais rápido enquanto os estilos mais formais se manifestam em ritmo mais lento.

Ainda em relação à questão da predominância do ritmo silábico no português do Brasil, devemos considerar a tendência à redução das proparoxítonas, regra variável mais freqüente nas variedades rurais e rurbanas (cf. Bortoni-Ricardo 2002). Essa redução pode seguir diferentes padrões, dos quais o mais comum é a supressão da vogal átona da penúltima sílaba, como em: “chácara”> “chacra”. Se a supressão da referida vogal resultar em estrutura silábica estranha aos padrões fonológicos da língua, como em: “número” > “numro” ou “lâmpada” > “lampda”, as palavras podem sofrer mais um processo de redução. Veja-se: “numro” > “nữro” ou “lampda” > “lampa”. A redução pode ocorrer também com a supressão de uma vogal pretônica e da consoante seguinte, como em: “específico” > “especifo”; “depósito” > “deposo”. Há ainda a possibilidade da supressão de toda a sílaba átona final, como em: “quilômetro” > “quilomi” ou “legítimo” > “legiti”. Um processo mais raro, mas que também pode ocorrer, é a simples alteração da sílaba tônica sem mudanças segmentais: “incômodo” > “incomodo” (cf. Bortoni-Ricardo, 1985).

Nas contribuições que a sociolingüística variacionista liderada por William Labov tem feito à pedagogia do ensino da leitura e da escrita, enfatiza-se muito que os professores têm de aprender a fazer distinção, na leitura das crianças, entre problemas de decodificação, em geral, e a transferência para a leitura de regras fonológicas próprias do vernáculo da criança, especialmente no caso dos falantes da variedade afro-americana nos Estados Unidos (cf. Bortoni-Ricardo, 1997). Pesquisando as fontes dos problemas na leitura de crianças afro-americanas em escolas da Filadélfia, Labov et alii (1998) dão prioridade à análise da habilidade que os alunos demonstram no reconhecimento da correspondência som/letra, ao identificar palavras que fazem parte de sua competência para ouvir e falar. Grande parte de sua discussão recente vem focalizando os preditores do sucesso ou fracasso na leitura e o desenvolvimento da consciência fonêmica ou fonológica. Segundo esses autores a população de crianças afro-americanas tem maior dificuldade para desenvolver o processamento grafema-fonema que as crianças de outros grupos étnico-culturais. Os autores se propõem a verificar se, diante de qualquer letra, o leitor a reconhece como um fonema individual, como parte de um dígrafo que representa um fonema ou como parte de um grupo de fonemas que funcionam conjuntamente como início, núcleo e coda da sílaba. O objetivo de sua pesquisa é fornecer bases lingüísticas para o aperfeiçoamento dos métodos de alfabetização e ensino de leitura, enfatizando as necessidades específicas do grupo étnico estudado. Os autores recomendam que mais tempo seja dedicado à “rima”, i.e. às vogais e consoantes que se seguem à consoante inicial da sílaba, e também às consoantes que fecham sílabas, particularmente, ao final de palavras. Esse é um contexto sujeito a muita variação no vernáculo dos alunos. Ainda baseados na fonologia desse vernáculo recomendam que, juntamente com as sílabas CVC, que predominam nas lições iniciais da fônica, seja introduzido o padrão CVCe. Por exemplo, não basta que o alfabetizando saiba que hop é /hap/. É preciso que ele saiba também que hope não pode ser /hap/. Dígrafos vocálicos como “oa” e “ai” têm de ser trabalhados bem ao inicio do processo de alfabetização para que contrastes entre cot e coat ,rod e road, mad e maid sejam bem assimilados. Como estratégias gerais enfatizam que é preciso aumentar a percepção da estrutura das palavras tão logo os alfabetizandos atinjam a fase de reconhecimento da letra. Isso pode ser feito de forma consistente por meio de um trabalho pedagógico implícito ou explícito da fônica. O reconhecimento da consoante simples no início de sílaba parece estar sendo bem sucedido, ainda que tenham sido relatados erros relacionados à identificação da consoante inicial. Por exemplo, a palavra “ceiling” lida “killing”, o que demonstrou a incapacidade do leitor de aplicar a regra da pronúncia do “c” como /s/ antes de “e” ou “i”. O fonema /r/ pós-vocálico, que tem status variável na pronúncia dos afro-americanos em Filadélfia, representou um verdadeiro bloqueio na leitura. Também os elementos flexionais, como o morfema de plural – s, o possessivo – s, a terceira pessoa do singular - s do indicativo presente, o comparativo – er e o superlativo – est, o morfema regular de passado – ed e o do particípio presente – ing, todos eles em processo de variação no vernáculo, receberam atenção especial na observação da leitura dos alunos e se constatou que a incidência de erros em palavras com essas flexões é muito alta quando comparada à leitura de palavras monomorfêmicas. Os alunos não pronunciavam os morfemas flexionais nem tampouco processavam a informação semântica que eles representam.

Convém observar aqui que o sistema ortográfico do inglês (Stubbs, 1980) está muito mais distanciado da pronúncia contemporânea da língua que no caso do português. Isso torna a ênfase na relação fonema-grafema conferida pelos métodos fônicos especialmente importante. O que o grupo de pesquisadores da Filadélfia está propondo é que, além do trabalho regular já desenvolvido nas escolas de acordo com esses métodos, na identificação da relação fonema-grafema, seja dada atenção também a regras variáveis fonológicas produtivas em algumas variedades do inglês, como no vernáculo afro-americano, cuja sistematicidade os professores alfabetizadores geralmente não conhecem.

O mesmo vale para o processo de alfabetização no Brasil. Mesmo considerando que a grafia do português, diferentemente da grafia do inglês, tem um forte apelo fonêmico, como observou Mattoso Câmara (1977), a introdução de informações referentes à variação fonológica no horizonte dos alfabetizadores é muito importante porque grande parte das dificuldades que os nossos alunos vão apresentar na leitura e na escrita está justamente relacionada a esse componente variável da fonologia.[9]

É dentro dessa ótica que se situa o presente artigo. Não temos ainda dados de leitura no início de escolarização, mas vamos ilustrar essa questão com a produção escrita de alunos das séries iniciais, inclusive alunos da educação de jovens e adultos (EJA). Para alguns dos textos que selecionamos incluímos uma breve análise, outros foram apenas transcritos para que o leitor perceba quais são os problemas mais produtivos na escrita dos alfabetizandos, que tendem a se repetir ao longo das séries iniciais, bem como identifique problemas de hipercorreção que aparecem com mais freqüência na produção escrita de alunos nas séries mais adiantadas ou dos alunos de EJA. Nas breves análises que incluímos, procuramos fazer uma distinção entre características da escrita que se associam a regras variáveis na pronúncia e outras que podemos atribuir simplesmente ao caráter arbitrário das convenções ortográficas. Temos de ressalvar também que por ora a análise se circunscreve à dimensão ortográfica dos textos, que poderão merecer tratamentos posteriores que contemplem os demais componentes da textualidade. [10]

Delmara, 06 anos, 1ª série.

“Agua

a agua é quente

a agua é morna

Jesus é lindo

A fer e cherosa”
A criança constrói o texto justapondo períodos simples, mas já demonstra ter domínio sobre convenções ortográficas, exceto a acentuação da palavra “água” e a grafia da palavra “flor” (fer). Em “cherosa” reduziu o ditongo /ei/ refletindo a pronúncia da palavra. O contexto (segmento seguinte /r/) favorece a monotongação. Mota (1988) em sua pesquisa em Sergipe considerou que /ei/ e /e/ estão em variação livre e ressaltou que a vibrante alveolar como segmento seguinte é altamente favorecedora da monotongação. Bisol (1989 e 1994) observa que alternância entre o ditongo e a vogal simples não acarreta alteração semântica e aponta contextos em que isto ocorre: antes de consoante palatal e antes de vibrante. Nesses contextos a autora considera o ditongo como falso ou fonético. Paiva (1996), que estudou a supressão das semivogais /y/ e /w/ em ditongos decrescente no corpus do PEUL, relata casos da aplicação da regra na passagem do latim para as línguas românicas; mostra que o ditongo /ow/ em final de palavra é categoricamente reduzido. E considera a monotongação quase categórica sempre que o segmento seguinte compartilha um número grande de propriedades com a semivogal. Mostra ainda que a extensão da palavra favorece a supressão da semivogal, que também cai com mais freqüência em sufixos como em – eiro.

Danielle, 06 anos, terceiro período do ciclo de alfabetização.

Machocei o meu pezinho.

A cobra me picol.

Minha mão quebrol.

O limão é bom

Eu subi no pesinho de limão.

O texto é constituído de períodos simples justapostos. Quanto às convenções ortográficas, a menina ainda não tem um perfeito domínio da representação do fonema /k/. Usou com propriedade a letra “c” para representá-lo em “cobra” e “picol”. Usou o dígrafo /qu/ em “quebrol”, mas não o empregou em “machocei”. Nesta última palavra o emprego da letra “o” na sílaba pretônica pode ser uma evidência de hipercorreção, pois este é um ambiente em que a vogal /o/ é normalmente pronunciada /u/. O morfema de terceira pessoa do singular do perfeito do indicativo, representado pelo ditongo decrescente /ow/ foi nas duas instâncias grafado “ol”, o que reflete a neutralização dos fonemas /u/ e /l/ em posição final de sílaba, praticamente uma regra categórica em quase todo o território brasileiro (cf. Scliar-Cabral 2003). O fonema /z/ foi representado na mesma palavra pelas letras “z” e “s”.

Vítor, 06 anos

Eu gostaria di gãia ú biqdo de pista di carĩo.
Neste texto há que se observar a influência de uma regra variável muito produtiva na região Centro-Oeste __ a despalatalização da consoante nasal palatal / nh/, preservando-se o traço [+ nasal] na vogal anterior. Nas seqüências “di gãia” e “ú biqdo” temos vocábulos fonológicos no interior de grupos de força ( Mattoso Câmara, 1970). Nesse contexto, as vogais /o/ e /e/ das sílabas iniciais, de fraca tonicidade, são pronunciadas /u/ e /i/ respectivamente. Esta é praticamente uma regra categórica no português do Brasil (cf. Bisol 1981 inter alia). Outra regra fonológica variável que o texto revela é a supressão do /r/ final, morfema de infinitivo.

O menino Vítor ainda não se apropriou de muitas convenções ortográficas: o emprego das letras “m” e “n” para indicar a nasalidade da vogal como em “ú”(um) e biqdo (brinquedo), nesta última palavra também não soube grafar a sílaba complexa “brin”, nem o dígrafo /qu/. Ele também não aprendeu a empregar o dígrafo “rr”.

Paula, 06 anos

Neste nataueuqero gãia uma boneca nicole d prezĕte di natau nãu presiza ébrulia
Observa-se a influência da neutralização dos fonemas /u/ e /l/ em sílaba final; a despalatalização da consoante nasal palatal /nh/ e a perda do /r/ no infinitivo verbal. No grupo de força inicial aglutinou o vocábulo fonológico “ eu quero”. Além desses a menina demonstra outros problemas na transcrição ortográfica de grupos de força. Em “d prezĕte” e “di natau” ora grafa a preposição, que se adjunge ao vocábulo seguinte, adquirindo status de sílaba pretônica como “d” e ora como “di”. Precisa ainda adquirir familiaridade com o dígrafo “qu” e com as convenções da grafia das vogais e ditongos nasais. O fonema / λ /, que se neutraliza com a seqüência /lia/, foi grafado “lia” (cf. Lemle 1987).

Aluna de 7 anos, 1ª série

A buneka qeu qero e muitograndi e cuazi du meu tamãio papai noeu seraqivose podi mi da eça buneca di prezeti

Esta aluna, de 7 anos, ainda não aprendeu a usar a letra “c”, diante de “a”, “o” e “u” para representar o fonema /k/, nem o dígrafo “qu”, que também representa esse fonema. No grupo de força [a boneca] usou a letra “u” na sílaba inicial, de fraca tonicidade, refletindo a regra de elevação do /o/ para /u/ em sílabas pretônicas. O grupo de força [muito grande] foi aglutinado e a vogal /e/ final, pronunciada /i/, foi grafada com a letra “i”. O mesmo ocorreu na palavra “quase”, grafada “cuazi”. Nesse mesmo grupo de força, a aluna usou corretamente a letra “o” em “muito”, que é pronunciada /u/, mas representou o /e/ como o pronuncia. É interessante notar que a palavra “tamanho” foi escrita como é pronunciada, com a perda da consoante nasal palatal, representada na escrita pelo dígrafo “nh”. Em muitas regiões do nosso país esse fonema, é suprimido, como em “banho” e “venha”, restando apenas a nasalização da vogal anterior. Também a palavra “Noel” foi escrita conforme é pronunciada. O grupo de força [será que você] foi aglutinado e o fonema /s/, que na palavra “você” é representado pela letra “c”, por uma questão de convenção da ortografia, foi representado pela letra “s”. Na palavra “essa”, a representação do fonema /s/ é convencionalmente feita pelo dígrafo “ss”. A aluna ainda não tem domínio das convenções que regem a grafia desse fonema. Ela não aglutinou o grupo de força [pode me dar], mas grafou o /e/ das sílabas átonas como o pronuncia e também se esqueceu de recuperar na escrita o /r/ do infinitivo verbal que, na pronúncia, é geralmente suprimido. No grupo de força [de presente] as ocorrências de /e/ em sílaba átona foram grafadas “i”. Constata-se ainda que a aluna não conhece as convenções ortográficas que marcam a nasalidade das vogais. Por isso omitiu a letra “n” na palavra “presente”, que escreveu com a letra “z”.

Gabriela 1ª série

A mia muxila e da babi ela e roza eutabei gaie istogo di coloca lapis boraxa i canetia a itabei uapotado
Criança com 7 anos

Minha férias

Eu fui ao cinema foi muito legal depois agente fomos ao Mcidonaudis e depois eu fui pra casa, la em casa eu briquei no vidiogueme.
Mateus Pereira Sousa, 08 anos, 3ª série de transição.

“ O macaco que não tinha mãe

O macaco estava paseando na floresta e ois caçadores queria mata mais era proibido mata macaco quando estava de noite eles foram mata os macaco. mais a polícia pegou eles e o ladrão foi preso i eles achou uma faca de cortar ferro e quebrou o cadiado e fojiu, pegou o carro da polícia e foram para japão e os polícia do japão viu a cara do homem e prendeu ele e nunca mais de saiu de lar.”
Hemily, 3ª série

Eu emtendi que as pessouas tem que aseitar como nos somos e não tentar mudar para os outro cada um tem seu jeto de ser não emporta se seja feia ou bonito branca e preta emporta que se ama

Tem que ter amor do coração ninguem precisa tomar posão para ficar bonito porque todos tem alguem bonito por detro nos temos o direito de aceitar as pesouas como elas são por dentro ou por fora não importa mas não podemos matratar as pesouas porque são diferente da gente e nem criticar desemdo de que e feio e chingando porque e feio maltratar os outros porque nigem naceu para ser chingado todos tem que se tratado bem
          Fim

Larissa , 3ª série

A Dama e o Vagabundo

Dama e Vagabundo estavão ouvindo uma linda musica tocada por tony e comendo um delisioso macarrão o melhor macarrão do mundo.

Dama e Vagabundo estavão indo para casa. Vagabundo olhava Dama com muita alegria Vagabundo estava feliz por estar com Dama sozinho.

Quando Dama chegou em casa seu donos tinão acabado de sair para viajar.

Quem ficou com o bebe foi a tia Sara. Quando tia Sara descobriu que Dama tinha fugido acorentou Dama e deichou ela presa.

A noite dama viu um enorme rato sobindo na janela do quarto aberta o quarto era do bebe. Dama comesou a latir latir.

Vagabundo chevou a casa de Dama para ver o que esva acontesendo. Vagabundo chegou. Dama estava desesperada.

Vagabundo subiu bela a parede e quase comeu o rato tia Sara não giu o rato e cupou Vagabundo pela a bagunça entera e mandou a carrosinha prendela.

Dama ficou muito triste. Derrepente chegou os donos de Dama.

Dama tentou sauvar Vagabundo e com um pouco de esforso conseguiu.

Passaram-se muito tempo Dama teve mais ou menos 8 filhotes.

Dama tinha que mudar de sua família humana e sua familha canina e viveram felizes para sempre.

Rafaela, 10 anos, 4ª série

Paz na natureza

“ No mundo está acontecendo muitos casos de morte, em São Paulo 1.500 pessoas morreram por calsa de dengue, aedes, cancer, ásma e também casos deferentes comos os que eu falei”.

Na minha opinião eu acho que deveriam tem mais um pouco de cosideraçao, amor, carinho, união, e tudo mais bonito, e etc.

Nós podiamos fazer para acabar com isso, dado enxemplos, conselhos e ajudando fazer o serto e não fazer o mal sempre fazer o bem pense o que você faz e que não faz preste atenção não erre seja sempre o feliz unido e amoroso.
Maria 62 anos

Tema hoje e sobre o dia do índio

O indo perdeu toda sua liberdade, eles são muito discrimimado pelo nossas

O povo não dar nenhuma inportancia pela cultura idigina.

Eles devem ser respeitados no seu habitar que são as matas e os rios. Hoje ele são afrontados por fazendeiros, que tomaram suas terras.

E matam seu povo com se eles não fosse gente.

O índio deve ser respeitado como ser humano e não ser escarraçados de suas terras como agente ver hoje eles sendo espancardo.
Abstract

This paper focuses on the development of phonological awareness as a requisite for any method of literacy teaching. My contention is that phonological variable rules should be inserted onto this process of consciousness raising.

Key words: Phonological awareness; Literacy methods; Graphemic-phonemic analysis ; The Alphabetic principle; Written texts of novice writers

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[1] O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que acontece desde 1990, teve nova estrutura definida em 2005. Agora o Saeb é composto por dois processos de avaliação distintos: a Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), que é sistêmica e é aplicada em amostra aleatória de estudantes, e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), mais extensa e detalhada, com foco em cada unidade escolar.

[2] Ver “Consciência fonológica” em Letra A - O jornal do alfabetizador do Ceale/UFMG, julho de 2005, ano 1- nº. 2 pág. 13.

[3] Aos métodos de alfabetização voltados para a decodificação da palavra com base na consciência fonológica opõem-se métodos conhecidos nos países de língua inglesa como “Whole language”, que partem da premissa de que a leitura é um processo natural, como a fala. Todo o trabalho de alfabetização é feito com textos, especialmente textos espontâneos produzidos pelos alfabetizandos. Segundo esse paradigma o contexto fornece pistas funcionais que permitem ao aprendiz ‘adivinhar’ cada palavra. Esses métodos têm a grande vantagem de valorizar o papel do contexto, pois as palavras, vocalizadas ou escritas, ocorrem sempre inseridas em um contexto significativo, já que a comunicação humana não se dá por meio de palavras isoladas. Trouxeram também uma grande contribuição ao enfatizar as estratégias heurísticas que os aprendizes desenvolvem quando começam a escrever e a ler. No entanto, têm uma fragilidade: na medida em que enfatizam a capacidade do leitor de ‘adivinhar’ a palavra, pelo apoio contextual, dão pouca ênfase ao ensino explícito da relação entre fonemas e grafemas, que facilita a decodificação (e posteriormente a codificação) de palavras. Para uma discussão mais detalhada da polêmica entre os dois paradigmas de alfabetização, ver Chall, 1967.

[4] (Para uma crítica a esses métodos, veja-se o influente livro de Cagliari (1999), Alfabetizando sem a Bá-Bé-Bi-Bó-Bu).

[5] Na discussão já tradicional sobre métodos de alfabetização são identificados dois tipos de métodos, os analíticos, também denominados métodos de cima para baixo, que partem do texto para as unidades menores, e os sintéticos, cuja lógica segue um procedimento de baixo para cima: das unidades menores, como a relação fonema – grafema para as maiores. Para uma revisão sobre métodos de alfabetização, ver Magalhães 2005.

[6] Recentemente a imprensa anunciou que o MEC está estudando uma revisão dos parâmetros curriculares para a alfabetização com vistas a enfatizar as relações fonema-grafema, conforme preconiza o método fônico. Em 18 de fevereiro de 2006, a Folha de São Paulo, na seção “tendências/debates” trouxe dois ensaios sobre a questão. No primeiro Telma Weisz defende um método global, em que os alfabetizandos são levados a mergulhar no mundo da cultura escrita. No segundo João Batista Araújo e Oliveira faz a defesa de métodos fônicos e associa o processo de alfabetização ao domínio do código alfabético.

[7] Para os brasileiros cujas línguas maternas não sejam o Português, como é o caso das etnias indígenas, a constituição brasileira garante o direito a uma educação bilíngüe.

[8] Segundo David Crystal (1985 p. 272) a fonologia segmental analisa a fala em unidades distintivas, ou fonemas, que têm uma razoável correspondência com os segmentos fonéticos. A fonologia supra-segmental analisa os traços que incidem sobre mais de um segmento, como entoação e harmonia vocálica. Em Mattoso Câmara encontramos a distinção entre os dois conceitos no verbete “prosódia” (1978 p.202). Para o grande lingüista brasileiro, a prosódia “é a parte da fonologia referente aos caracteres da emissão vocal que se acrescentam à articulação propriamente dita dos sons da fala, como em português o acento e a entoação”. Observa ainda, em outra obra (1977 p.43), que em português a sistematização ortográfica de Gonçalves Viana foi especialmente sensível ao apelo fonêmico.

[9] Mollica (2003) vem construindo exercícios e atividades pedagógicas com o objetivo precípuo de desenvolver com alunos e professores a percepção da variação lingüística. Também o grupo de Sociolingüística liderado por Dermeval da Hora, em João Pessoa ( Hora, 2004), tem trabalhado com regras variáveis em suas propostas para o ensino da leitura e da escrita nas séries iniciais.

[10] Os textos foram recolhidos por alunos de graduação na disciplina Processo de Alfabetização e por alunos de Pós-Graduação na Faculdade de Educação na Universidade de Brasília.
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