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terça-feira, 24 de agosto de 2010

EDUCAÇÃO E AUTONOMIA: UMA DISCUSSÃO CRÍTICA A PARTIR DAS RESPONSABILIDADES POLÍTICAS DO ENSINO

Oi gente... falar de formação continuada é nunca esgotar possibilidades...
Este artigo da Henriqueta foi trabalhado no Grupo de Estudos do CAC, e será estudado pelo Grupo de Estudos da AMT também...
Ele nos auxilia na reflexão sobre nossas políticas, práticas, mas também pontua a busca da autonomia que vem a partir de nossas ações refletidas... será que ainda estamos engaiolados, ou já conseguimos saber o que queremos e consequentemente conquistar a almejada autonomia?
Saliento que o texto está na sua íntegra, como a autora escreveu. Por ser anterior à Nova Ortografia, o mesmo apresenta ortografia com variações das últimas atualizações.
Boa leitura... deixe seu parecer!!! Deixe seu comentário e recadinho!!!




Henriqueta Alves da Silva (autora)

Há quem diga que a educação liberal e positivista não nos conduz a caminhos burocráticos e instrumentalistas com sua submissão ao mercado de capital instituindo um forte controle e centralismo, dificultando a autonomia da escola. Porém, a autonomia da escola pública só se realiza quando o povo politizado for cidadão participativo e exigir seus direitos. (CASSOL, 2007).


A escola que hoje buscamos não está mal gerenciada porque seus métodos, currículos são irrelevantes, mas pelas condições que a população tem enquanto dominada e massacrada por ideologias. A pobreza política está reproduzindo características de repressão no acesso às vantagens sociais e principalmente na educação quando dita “superior”. Se popularizada ela deixará de ser superior, elitizada (DEMO, 1994). A educação tornou-se mercado competitivo com características de liberdade individual, de capacidades pessoais e abdicação do coletivo. Há, urgentemente, a necessidade de questionar essa lógica e sair do isolamento do poder central no espaço das relações escolares e motivar para a consciência e participação. A autonomia da escola deve manter relações dialógicas efetivas e envolventes com a comunidade, pois a educação é uma das formas de conhecimentos que possibilitam aprendizado/alfabetização política, um meio de libertar diante da ignorância e partir para a reflexão e conscientização da realidade social.

O conhecimento deve ser a possibilidade de um “parto”. Tal método visa promover o “aparecimento” da verdade que se oculta no interior do ser humano. Aprender significa trazer à tona o verdadeiro conhecimento mediante um procedimento adequado do educador e uma necessidade intrínseca do estudante.

Para Sócrates (FOEKER, 2006) o sentido da educação não é meramente transmitir conhecimentos, mas chegar a perfeição humana, transformando o homem numa criatura capaz de pensar e agir de maneira adequada refletindo sobre o seu meio e aperfeiçoando sua conduta.

A educação formal ou pedagógica é uma educação que executa métodos, estabelece regras e constitui executores especializados em determinada área de conhecimento, mas ela não deve ficar presa a métodos sem que sua formação coincida com o social. A cada ano que passa, um número expressivo de professores é licenciado na área da educação e já vem corrompido, ou seja, a desvalorização do professor inicia nos próprios cursos de formação nos quais ele não recebe a qualidade necessária para exercer sua função principal de educador. Quando o professor chega na sala de aula acaba cumprindo currículos, sem sair dos conteúdos ditatoriais e se transforma em executor de uma educação tradicional apenas avaliando a memorização e a repetição de conteúdos. Além disso, há uma grande e indigesta desvalorização do Estado à educação e da qualidade do conhecimento acumulado com universidades preocupadas com o financeiro, ou seja, a mercantilização do ensino.

Nietzsche (in NEUKAMP, 2007) pensou em sua época a educação moderna como nefasta por pressupor métodos antinaturais de ensino com a redução da cultura através da ampliação da especialização.

Pensava essa tendência como uma visão utilitária da cultura dominada por critérios quantitativos de especializar o maior número possível de pessoas para o mercado de trabalho.

Hoje se percebe que a realidade não é diferente. Há número de escolas técnicas e até mesmo universitárias que se especializam por suporem maiores chances de trabalho. Esta concepção conduz a superficialização do espírito e ao entorpecimento do impulso crítico. A educação essencial para a formação do homem foi deixada de lado, o homem não se atreve a ser ele mesmo, tudo é comandado pela lógica econômica e não com o intuito de elevação da cultura. Apenas o próprio interesse do mercado.

Com a tecnologização do ensino ocorreu a separação entre a concepção e a execução. Os professores tornaram-se apenas cumpridores dos currículos reduzindo sua intervenção ao planejamento superficial e já programado. Assim, a educação em vez de progredir para o conhecimento e a formação intelectual crítica e reflexiva reduziu os docentes a meros objetos do conhecimento, apenas executores de tarefas. O professor nesse processo de depósito do conteúdo ao aluno está cumprindo uma educação “bancária” constituindo a alienação e a ignorância, pois não dá possibilidade do sujeito criar, transformar e conhecer a realidade. Então, como libertar da ignorância e partir para a conscientização de uma educação autônoma?

O problema está na forma como a educação é vista. Há uma acomodação com a idéia da especialização para não ficar fora do mercado de trabalho e que impede ver o quanto se está sendo iludido por ideologias mercantilistas. O favorecimento da robotização do trabalho barra o exercício reflexivo pela pressão da agilidade, do isolamento de colegas proibindo assim, a troca de experiências e discussões com o outro, além de manter a todos alienados e desprovidos de crítica.

A conscientização dessas realidades deve partir da sociedade acadêmica, pois é lá que ainda paira a oportunidade de expressão dos pensamentos e questionamento da realidade educacional. Sempre que alguém ficar apenas engolindo tudo o que é transmitido continuará na mesma lógica estabelecida. A libertação da ignorância só se concretiza a partir da consciência crítica e do pensamento ativo e reflexivo obtido com a visualização da realidade social. O homem consciente é aquele que comanda “seu próprio destino. E amanhece o horizonte dos direitos, contra o dado e contra a imposição. Ator e não expectador.
Criativo, não produto”. (DEMO, 1994, p. 17).

O que acontece atualmente em muitas escolas é o processo da forte legitimidade do conhecimento científico no qual ocorre um brutal adestramento de métodos e fórmulas que reduzem o acesso ao conhecimento universal do aluno e racionalizam a sociedade a um processo de aplicação de conhecimentos específicos e científicos a serviço de interesses que se apresentam ao mesmo tempo neutros e absolutos. (CONTRERAS, 2002). “A ciência se justifica por seu método e não questiona suas visões de mundo” (CONTRERAS, 2002, p. 62). A perda da autonomia cidadã é um dos principais limites da educação, pois supõe a falta de controle sobre o próprio trabalho da escola perdendo o sentido real e ético da educação.

O ensino só é autônomo quando elaborado por pensamento próprio no qual os docentes desenvolvem um trabalho compromissado com a criação de possibilidades educativas no ensino e críticos às limitações que encontram no decorrer de suas tarefas.

Contreras (2002) discute uma das idéias vivenciadas pela comunidade educacional que é a falta de autonomia do professor profissional. O professor deve superar as limitações e as posições precedentes que venho revelando durante toda a progressiva da educação. O professor deve adquirir certas “capacidades”
para trabalhar com eficiência e qualidade no campo educacional. Contreras reflete três dimensões de profissionalidade de professores; o especialista técnico que considera sua autonomia como status ou atributo, tem dependência técnica, insensibilidade para os dilemas, incapacidade de resposta criativa diante da incerteza.

O profissional reflexivo aquele que tem responsabilidade moral individual, equilíbrio, capacidade para resolver criativamente as situações-problema. O intelectual crítico tem a autonomia como emancipação, liberação profissional e social das opressões, consciência crítica dirigida à transformação das condições institucionais e sociais do ensino. Desses modelos de professores profissionais deve ficar claro que Contreras não leva a adscrição, ou seja, não subordina a ideologia do profissionalismo, mas defende algumas qualidades necessárias ao ato de ensinar. Contreras elege o professor intelectual crítico como o melhor “modelo” que a educação precisa para concretizar um ensino de qualidade e autônomo.

A educação deve primar pela qualidade, compromisso e responsabilidade social, sua política precisa sair do mero aprender reprodutivo e mensurável, resistir processos técnicos e instrumentalizadores e partir para uma educação voltada para a construção do pensamento, do raciocínio correto e executar um comportamento social necessário e apropriado. Pois, “o que estamos presenciando atualmente é um processo no qual o discurso liberal acaba por fixar as formas como podemos pensar a sociedade e, nesse processo, termina por nos fixar a nós próprios como sujeitos sociais”. (SILVA, 2002, p. 16).

A escola deve ser um lugar de aprendizado no contexto de uma busca da verdade. “A verdade não pode estar definida pelo Estado, nem sequer por meio de processos democráticos: um controle estrito do currículo e dos métodos pedagógicos da escola é equivalente ao controle totalitário da arte” (CONTRERAS, 2002, p. 130). Ela deve manter um diálogo condizente com os alunos e com o interesse legítimo da sociedade. Deve ensinar questionar e buscar respostas a suas próprias perguntas, sempre coletiva e reflexivamente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASSOL, Claudionei Vicente. Autonomia da escola Pública no Norte do RS: Da crise de Projeto nas Escolas Estaduais à Inter-Subjetividade Criadora. ÁGORA, Revista Eletrônica. Junho de 2006, 02, p. 28-39. Disponível em: www.agora.ceedo.com.br.

CONTRERAS, José. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002.

DEMO, Pedro. Pobreza Política. São Paulo: Autores Associados, 1994.

FOELKER, Rita. O parto do conhecimento. Discutindo filosofia, revista, nO 5, ano 1, p. 32-33, 2006.

GENTILI, Pablo A. A. et al. Neoliberalismo, qualidade total e educação. Visões críticas. Petrópolis: Vozes,2002.

NEUKAMP, Elenilton. A educação de seu tempo. Disponível em: http:

//forumdefilosofia.worpren.com/2007/06/12/as-criticas-do-professor-nietzsche-aeducaçaodeseutempo/. Acessado: 10 de outubro de 2007.

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